Morte

Senti um arrepio.
Foi a morte que passou.
Tão perto que
quase me levou.

Foi um sopro na nuca.
Levantou os pelinhos.
Me vi branca e morta
estirada em um caixão.

Basta um só minuto
e a lâmina afiada.
O sangue rola no chão
e suja todo o tapete.

Vou brindar ao momento
em que pude perceber
que é bem mais fácil partir
do que ter que começar.

Vou fazer da vida festa.
Vou me vestir de vermelho,
pintar as unhas de roxo.
 e encrespar os  cabelos.

De que lado é a vida afinal?
Ou será que só tem esta
sem ter jeito de voltar?
Que desespero me dá

aquela ardente sensação
de pescoço retalhado.
Em duas eu me divido.
Uma apodrece no chão.

E a outra? Será?
Sei não.Sei não...
É melhor me prevenir
e adiar esta viagem.

Meu coração  apertado
como um velho enrugado
ou um maracujá ressecado.
Tanta angústia em meu peito.

A morte passou perto
mas dessa vez me livrei.
A foice raspou em mim
mas eu, rápida, me abaixei.


(do livro inédito de poemas: Mapa da Vida)