Prova de vida

De que vale minha tosca poesia

diante da realidade assustadora?

Não há possível reconciliação

entre o poema e as estatísticas

que se desenrolam, inexoráveis...

No entanto, insisto em poetizar

como a orquestra do navio

bem próximo de naufragar...

E insisto na beleza subjacente

à toda desolação...

quero animar de qualquer maneira

tanto a platéia como a tripulação.

Escrevendo em muros, paredes

espaços vazios, mensagens de alegria.

Nem sei bem porque...

Talvez porque insista em viver

trancada em minha torre de marfim

talvez porque julgue-me intocável...

e ainda não faça parte desses números espantosos.

aparentemente, tão frios...

mas que vez ou outra, deixam escapar lamentos

dolorosos lamentos, de perdas e danos.

Ah...vida humana, se eu não acreditasse

que um dia, regressarias a esse planeta

se eu não acreditasse que de várias formas

tu prosseguirás o teu eterno caminhar...

não estaria aqui, tentando arrancar versos

doloridos versos, desse impassível teclado..

É em nome dessa Vida que eu escrevo...

porque não encontro outra crença mais palpável

do que esta : minha prova de vida...

registrada no banco, no papel ou no cartório...

a certeza de que ainda estou por aqui (eu acho)..

por mais que me pareça aleatório...

Mareluz
Enviado por Mareluz em 23/03/2021
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