Prova de vida
De que vale minha tosca poesia
diante da realidade assustadora?
Não há possível reconciliação
entre o poema e as estatísticas
que se desenrolam, inexoráveis...
No entanto, insisto em poetizar
como a orquestra do navio
bem próximo de naufragar...
E insisto na beleza subjacente
à toda desolação...
quero animar de qualquer maneira
tanto a platéia como a tripulação.
Escrevendo em muros, paredes
espaços vazios, mensagens de alegria.
Nem sei bem porque...
Talvez porque insista em viver
trancada em minha torre de marfim
talvez porque julgue-me intocável...
e ainda não faça parte desses números espantosos.
aparentemente, tão frios...
mas que vez ou outra, deixam escapar lamentos
dolorosos lamentos, de perdas e danos.
Ah...vida humana, se eu não acreditasse
que um dia, regressarias a esse planeta
se eu não acreditasse que de várias formas
tu prosseguirás o teu eterno caminhar...
não estaria aqui, tentando arrancar versos
doloridos versos, desse impassível teclado..
É em nome dessa Vida que eu escrevo...
porque não encontro outra crença mais palpável
do que esta : minha prova de vida...
registrada no banco, no papel ou no cartório...
a certeza de que ainda estou por aqui (eu acho)..
por mais que me pareça aleatório...