GaZeTa NoTuRNa

Nos desejos mais profundos

Que habitam as minhas noites

Tênues sonhos moribundos

Vão-se em horas a te esperar

Cada noite sem ti é contigo

Horas sem ti é dor suprema

Vela-me o sentimento antigo

Falso afago por noite amena

As melhores horas da vida

São aquelas em que penso em ti

Teus cabelos escondendo o sóbrio olhar

Despido de pudores

Enquanto ris

Sussurrando em meu corpo

Antevejo o doce som da tua voz

Que me guia por tua história

Encanto e prantos de donzela

Bela adormecida concebida

Em lágrimas de cebola cortada

Amor imperioso

Verte de teu rasgo impetuoso

Quisera em real momento

Arrepiar em reais afagos

Arder em ideais lábios

Extasiar em leais abraços

Apertados

Corpos apertados

Que se adentram

E respirar teu gemido

Até cessar

e tu dizer brandamente

ao meu ouvido:

- você está sonhando...

Quando o lampejo da luz divina

Do anjo amargurado por ter falhado

Vier me socorrer em vida da morte

O eco dessa luz desfará todas as noites

Amor: encanto desconhecido

Amor: coração cortado

Amor: rasgo impetuoso

Não vago à toa por entre bares

de cidades esculpidas em florestas

Sou o sino, o som, a sina, a mina

A ranhura que segura a tinta

Na parede, na tela e sela

Como arte

Não vago à toa por entre mares

e portos plantados em hortos

Sou o neon, o tom, o carma, a calma

Neurônios craquelados

Na pele, na flor, na alma

Como arte

O tempo impuro e promíscuo

Desse sonho que me toma as noites

Estampa o bem estar, a paz

Que procuro intensamente

E se esquiva da maçã mordida,

Oxidada pelas gerações,

Para que:

paradoxalmente

Eu viva intensamente na certeza da morte tal

e morra suavemente na dúvida da vida eterna

antes de adormecer

Carlos Alberto de Souza
Enviado por Carlos Alberto de Souza em 09/04/2021
Código do texto: T7227753
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