O corte
Nem tudo pelos ventos de Saturno é levado.
Há feridas que não deixam cicatrizes
Pois latejam, zombando de relógios previsíveis
E se intensificam com gatilhos de passado.
Nem todo choro acaba pela manhã;
Alguns permanecem calados no peito dolorido
De uma alma que pra si havia mentido
Sobre felicidade com assombroso afã.
Nenhuma terapia cura
A tristeza que o coração segura;
Dada pela secura
De palavras de mortos-vivos.
Não há poema ou livro
Que sirva de valoroso abrigo;
Talvez algum amigo;
Talvez outras gravuras...
Nem toda lágrima rola pelo rosto;
Nem todo perdão chega aos ouvidos.
Pensamos que a dor se havia extinguido,
Até que percebemos um eterno agosto.