FOGUETE CAI NA AVENIDA PAULISTA

Noticiaram na TV, meio em segredo

Que um foguete iria cair

Não carecia medo,

Sempre é bom se prevenir.

Vinha do espaço celeste, desgovernado

e poderia cair na contramão da pista da Avenida Paulista

Sabendo da notícia

Os homens das bancas de revistas olharam pro céu e sorriram:

Que legal, vamos vender uma montanha de jornal!

Pensaram um pouco e concluíram

Deve ser pegadinha, isso é coisa de louco,

Além disso se está desgovernado,

É mais provável cair lá em Brasília

Sabendo da notícia

Cada artista do calçadão pegou seu instrumento

Cavaquinho, flauta, violão, bateria

Baseados no boca a boca saíram se afinando:

Que legal esse mote, já tenho o refrão.

O ciclista pedalava ciclo-faixa,

Ouviu mal o som da caixa

Parou na faixa de pedestre

Esperando a chegada da São Silvestre

Tempo ia passando, as bexigas se estourando,

Um pro outro perguntando, a conversa esticando

O Gaiato sem saber o que acontecia, garantia:

Não é foguete, não!

É a comemoração do Coringão.

Ganhara outro Mundial

Engraçadinho provocou:

O Palestra não chega na final

E saiu pulando e gritando:

É gol! Que felicidade

É gol! O foguete vai descer na cidade

Começou o quebra-pau

Uns garantiam ouvir tiros,

Outros festejaram a morte do vírus

Acalmou a multidão:

“O Metrô faria a desinversão”:

Estação Paulista seria na Paulista

Consolação na Consolação

Tão lógico! Lógico!

Quanto o sertão virar mar

E o mar virar sertão...

Questão de logística

Lógico! Lógico! Lógico!

De repente, o estrondo, o barulho

Não falei! Falei, não!

A moça da TV bem que avisou.

E põe discussão... confusão

Não havia foguete não,

E sim entulho fechando o túnel da Nove de Julho

Capotamento de um caminhão com restos da demolição

De mais um casarão da região

Coisas de plano diretor, construção civil

Onde já se viu:

Um foguete cair na Avenida Paulista.

Vingava-se o palestrino ainda uma fera

Foguete tem que cair lá em Itaquera

Ouvia-se ao longe, os artistas passarem o som:

“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar

E o mundo não se acabou” (Assis Valente)

(Que bom!)