Ausências corrosivas

Fecho os olhos para ver mais profundamente

Preciso sentir com os olhos de dentro

Para poder distinguir anjos de demônios

Que andam lado a lado nas noites eternas da vida

Em cada esquina da vida deixo um pouco de mim espalhado nas pessoas, como pequenas penugens que o vento sopra

E vou tornando-me imortal

Tramas de nossos dias vazios

Derradeiros idílios oníricos

Sorrindo sinto a esperança esparramando-se dentro de mim

Não mais penso em banhar-me no teu pranto

Nem tortura- me a tua lentidão

Pensamento desarmado, desvairado

Louco e dilacerado

Marca meu descompasso alucinado

Já não choro mais

Por saber que de nós nada restou

Tua ausência corrosiva destrói-me

Meu olhar desatinado vagueia pelos porões da minha insana mente

Vai enchendo-me de medo

E jogo- me cansada

Nesse nefasto estado de emoções desenfreadas

Alma exposta ao vento forte

Vou indo sem saber onde perdi-me

A angústia em mim penetra e fere-me

Dor que cega meus olhos baços

Solidão que machuca lá dentro onde tudo se torna intenso e maior

Tua ausência corrói-me

Corro sem rumo

Sem palavras não posso calar-me

Aponto em movimento um mergulho na memória

Tenso e melancólico mergulho no passado hostil, tão presente

E aqui fico eu, sobrevivente desse pesadelo

Buscando me ater às boas lembranças

Para não sucumbir nesse mar tenebroso

Pra não morrer de tristeza

Na noite escura sem fim vago por becos tortuosos

Até perder-me dentro de mim...

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 21/07/2021
Reeditado em 20/11/2021
Código do texto: T7303931
Classificação de conteúdo: seguro