E eu, não sou uma pessoa?

Eu que mato e que morro

Que desço rolando ladeiras e pago penitência no morro

Quase me mato de tanto trabalhar e nunca peço socorro

Não sou seu e nem o seu outro

Evito o reto caminho e caminho no torto

Pisando em lascas de vida, riscando facas, soltando faisca

Uma estrela que vaga no panteão das desgraças

E eu, não sou uma pessoa?

Eu que me faço de tonto, me faço de morto

Me refaço do dia frio embaixo de um banho morno

Fatio o pão e me embriago de mosto

Escondo o rosto com uma mão e a outra deixo ao “seu” gosto

Conto-“lhe” as maledicências, meio a contra-gosto

Escrevo sempre com reticências...é este meu moto

Sou assim desde garoto

E eu, não sou uma pessoa?

Eu que afronto e que me escondo

Que ergo casas dos escombros

Vejam, que assombro, que bela casa de adobe

Face para norte, acabamento em pedras de fino corte

Mas corra, pois há de desabar

E eu, não sou uma pessoa?

Nascido do mesmo modo que todos os outros

Iguais e ainda outros

Que cavo um poço no peito e encontro um leito seco

Sou eu um buraco, oco?

E agora a casa desmoronou, o peito cicatrizou-se em pedra e me pesa ao respirar

E eu, não sou uma pessoa?

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 29/12/2021
Reeditado em 28/01/2022
Código do texto: T7417536
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