Outras Vidas
Outras vidas deambulam
No enigma desta mente.
Pensamentos coagulam
Em meu torno firmemente.
Sou cheio e mascarado
Mesmo quando sou sincero.
Sou papel de rebuçado
Dum sabor que nem eu quero.
Contribuo sem porquê
P’ró que sou que não me vive.
O que sou ninguém mo vê
E o que vivi não o tive.
Mas vivo o que em mim passeia
Como se de eu se tratasse.
E à minha vida encontrei-a
A pedir-me p’ra que a amasse.
Muitas luas se encherão,
Muitos sois se hão-de pôr,
Até que este coração
Consiga entender o Amor.
Perante isto encolho os ombros
Mostrando desinteresse.
Entretanto nos escombros
Olho a vida que se esquece.
Calo à força estes gritos
engulo em seco estes sapos.
Tenho visto os infinitos
A transformarem-se em trapos.
Lembro os sonhos que já tive
E comparo co’os de agora.
Há em mim algo que vive
Só p’ró sonho se ir embora.
Mesmo assim muitos cá ficam
na miragem, não na meta.
Dos que não se justificam
Minha mente está repleta.
Conto as metas pelos dedos
As que tenho ou foram tidas.
Só sem medos ou segredos
Se atingem outras vidas.