Aos Conselheiros

Ando farto daqueles que vivem a aconselhar

Como se deve proceder quando das tempestades negras e dos incêndios violentos.

Não costumo queixar-me das tempestades, por mais negras,

Ou dos incêndios, por mais violentos.

Não guardo rancor da chuva líquida

Que dobra a terra fosca sobre a qual se misturam as pegadas das gotas até que não haja mais as pegadas das gotas;

Nem das nuvens que despejam os trovões implícitos nos relâmpagos

Nem do fogo espesso que arde nas paredes insuficientes para o apetite do fogo,

Como os tácitos acertos que não se pronunciam entre os homens

E que nunca se sustentam devidamente.

Geralmente os que me aconselham como proceder quando das tempestades negras

E dos violentos incêndios

São aqueles que fogem à beleza dos chafarizes por lembrarem a potência dos gêiseres

E têm horror à utilidade das lanternas por recordarem o choque passado.

São os covardes, os medrosos de toda sorte,

Aqueles que não saem nas ruas por temor ao gato que com o vento pode despencar da janela,

E ainda, os que vivem no escuro por medo indizível dos fósforos.

Eis os distribuidores de conselhos,

Os que cobram gratidão pelo julgamento acertado que pensam feito,

Como se dependesse a aurora ser brilhante todos os dias

Do sopro que ordenaram àquele que, envolto em noite e nuvens,

Passeava com entusiasmo entre as lâmpadas frias.

Ando farto daqueles que vivem a aconselhar

Como se deve proceder quando dos incêndios violentos e das tempestades negras.

Melhor seria se calassem.

E me deixassem em paz.