Graça
Há de chegar o dia em que ao mundo não mais serei necessário,
Exceto, talvez, como a causa remota de uma fruta terrestre
Ou de um pensamento luminoso acerca dos timbres que desmaiam
Os invernos caiados.
Há de chegar o dia em que meus versos parecerão rudimentares
Ao espírito dos homens e que meu filho, hoje pequeno,
Descansará do esforço supremo de ver as coisas do mundo.
Hei de ser desnecessário ao mundo dos homens tanto quanto hoje
Sou desnecessário às caixas e às janelas já abertas,
Tanto quanto fui desnecessário aos cem homens à frente do primeiro exército,
Às hecatombes tristes para a voz grave dos bois sérios e de voz grave,
À pedra solene que foi o destino do escaravelho
Que não pressentiu na sombra a pirâmide seca e distante da simplicidade do trigo.
Há de chegar o dia em que serei desnecessário ao mundo e às coisas do mundo e isso sim, de alguma maneira absurda,
Me parece de uma importância avassaladora.