Anos desta vida
... É meu amigo.
As ruas, os buracos, as favelas, o sujo asfalto,
O repente assalto, a pixação.
Isso de dias.
A noite vem o assombro, o medo, a pressa, a aflição
De chegar aonde?
Se vamos ou viemos, se somos ou seremos
Em sentido, em contra-mão...
Nos fica a morte, doce e fagueira
A nos legar extrema-unção.
E lá vou eu, lá vamos nós,
Mortos, moribundos rotulados e assoberbados
Por esta civilização...
Que nos consome, nos tira o pão.
Mas, calma aí, não vá cair ó meu irmão
Neste tropeço de solidão,
Nas pernas mortas do garotão
Fininho e roto qual um biscoito,
Que ao cair não chega aos dezoito
Anos desta vida.
Vicente Freire – 23/08/1982.