Eu te rendo ou eu me entrego

- A menina bonita despontava na rua.

Visualização perfeita das minhas retinas,

Que engloba a pequena moldura de carne e sensualidade.

Tento compreender sua beleza juvenil, e

Se n’ela a maldade habita, d’ela faz sua morada hermética.

Caprichoso foi o destino que te fez assim...

Bonita, altiva, com uma beleza arrogante, como que

Diminuindo-me quando pra ti viro os meus olhos.

Olho pra ti como quem olha para uma jóia,

Achando-te bonita, sem querer tirar o seu valor e

Tendo o cuidado de me mostrar as nossas diferenças idôneas.

Vejo-te como uma flor de dois galhos espinhados

Que o destino teve o cuidado de nos comparar.

- E assim, a menina cada vez mais perto despontava na rua.

Sua face antes sisuda agora se desmancha, esboça um sorriso

E sua cabeça pende um pouco pro lado esquerdo,

Seus olhos procuram o chão e pistônicamente,

Sobem e descem como quem tem vergonha do que vê;

Talvez por estar mal vestida ou talvez por estar entre:

O eu te rendo ou eu me entrego.

E, olhando para trás eu percebo o causador de tudo:

Um belo menino bonito, que como um bom domador

De longe prende a sua presa n’um olhar lacônico,

Fazendo caminhar ao seu encontro a grande beleza altiva,

D’antes arrogante, mas agora derrotada.

Vicente Freire – 11/01/1985.