Estrela de Belém (II)

Eu queria te fazer uma poesia,
mas estou tão vazio de sentimentos,
tão desencontrado comigo mesmo,
tão embrutecido
incapaz de sentir na palma da mão,
na pele inerte,
nos olhos cansados
a tua presença.

Seria bom se eu pudesse rasgar a noite presente
e as noites passadas,
apagar os dias passados,
e o dia presente
para reescreve-los de um jeito diferente.
Sim, estou mudado,
pois já não sou mais eu
e nem sei mais o que sou,
talvez um ser inanimado,
talvez desanimado,
um ser sem passado,
e sem presente
(isto para nem falar de futuro).
Sim, estou cansado dessa condição humana.

Meus irmãos se perderam,
ou se venderam
pensando terem encontrado
o sonhado Eldorado
talvez o Éden,
ou a Terra prometida.

Minhas mãos se cansaram
de buscar palavras amenas
para falar de amor...
... amor, tantos desencontros
na ilusão de te encontrar...

E tu, Estrela de Belém,
por que não brilhas mais neste meu céu?

E tu, ó Sol, aborreceram-te? E eu com isso?
Decerto nada fiz por ti,
nem contra ti
e pela minha omissão
me deste essa missão
de escrever palavras mortas
de tanta emoção,
de tanta ilusão,
de tanto amor
.