Que se transformavam em poesias

Que secaram-me as lágrimas,
disso eu já sabia.
Mas secaram-me, no entanto,
as palavras que por encanto
eu transmutava em poesias
(pobres poesias, sim, porém sinceras).

Secou-se tudo, secou-se a dor,
o bem querer e a saudade,
o esperar com ansiedade,
e nessa infinitude de secura,
secou-se a ternura,
o dom de amar e a magia,
a tristeza e a alegria,
o riso, a nostalgia,
o medo e o acalanto
e para meu maior espanto
teu nome não mais pronuncio.

Na fartura de tanto secamento
para que falar de sentimento?
E se não há mais desalento,
também me falta esperança,
e de tudo o que não mais me alcança
perdeu-se uma alma de criança,
e daquilo que um dia foi risonho
o que mais me falta é um sonho.