A superfície das coisas
[Base em Freud, A Interpretação de Sonhos]
Eu vivi na superfície das coisas
Mas vivi também pela fortuna
das palavras
Iam elas aos poucos e poucas
incorporando-me à lentidão
penetrando as estações da minha pele
dilatando a amarga malha dos dias
rastreando o frio e calor nos seres
mergulhando-se no amor até sair o tédio
no tédio até brotar a esperança
na esperança até emergir no assombro
sem que o queira ou por que o queria
As palavras...
maravilhosamente
incapazes de compromisso.