A superfície das coisas

[Base em Freud, A Interpretação de Sonhos]

Eu vivi na superfície das coisas

Mas vivi também pela fortuna

das palavras

Iam elas aos poucos e poucas

incorporando-me à lentidão

penetrando as estações da minha pele

dilatando a amarga malha dos dias

rastreando o frio e calor nos seres

mergulhando-se no amor até sair o tédio

no tédio até brotar a esperança

na esperança até emergir no assombro

sem que o queira ou por que o queria

As palavras...

maravilhosamente

incapazes de compromisso.

Nelson Horochov
Enviado por Nelson Horochov em 10/09/2022
Reeditado em 29/09/2023
Código do texto: T7602855
Classificação de conteúdo: seguro