TEMPORAL

Com a boca escancarada

num riso disforme

a cidade grande

me absorveu

Os veículos insistiam em passar por mim

Os edifícios ameaçavam cair sobre mim

Os homens

animais ruminantes

deglutiam idéias

sob o peso implacável dos dias

num estertor antagônico

vida-morte

Camuflavam o verso

Na incerteza segura da vida

a certeza segura da morte

assaz querida

"só morrer é seguro"

Contudo meu tempo agitado

acalmou-se como um temporal

irmão-gêmeo do após dilúvio

e entre os veículos que vomitam poluentes

um homem-eu olhava o asfalto

Na linearidade da rua

de um sonho esqueci-me de lembrar

O temporal conservou intacta

a mulher.

Gualberto
Enviado por Gualberto em 01/12/2007
Reeditado em 01/12/2007
Código do texto: T760460
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