PASSAGEIRO

Esse trem já rodou meio mundo

E nesse tempo

Meus olhos graúdos foram se enchendo do negro da noite

E conforme a vida ardia

Pingava o orvalho das madrugadas

Cerrando ao se deparar com abismos

Bendita viagem

Ao longe eu ouvia

O ranger das rodas nos trilhos

O corpo tremia e a voz embargava

Tudo bem, eu dizia

Lamento tornado em canto

Mas eu não acreditava

Quando eu descer

Lá na frente

De peles murchas

vista gasta

Memória roída

Não será ponto final dessa estrada

Chegada ou partida

Eu desconfio

Que ao longo do percurso

Em algum ponto obscuro

Meu coração desembarcou

Antes de mim

E seguiu sozinho para outra cidade

Se o condutor

Redefiniu a rota

E moveu as entrelinhas da paisagem

Meu corpo pode morrer de cansaço

De peito vazio e em pedaços

Que eu estarei sempre de passagem

ROSE VIEIRA
Enviado por ROSE VIEIRA em 09/11/2022
Código do texto: T7646347
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