Viver morrendo

Sandra Maria Aparecida Florentino de Oliveira Santos Silva da Cruz Ferreira...

Filha natural do sertão do Brasil, interior detestável da cidadezinha de Icó,

Foi julgada a revelia pela sociedade ínfima de sua cidade por sua carreira de prostituta

Onde tentou se salvar da miséria, em que vivia, que fazia dó;

Sendo condenada a um degredo sigiloso, onde o juiz e o advogado de acusação

Impuseram-lhes as duras leis constituídas, num respeito aos sacros santos da cidade,

Que queriam que a dita cuja, aí de cima, cumprisse pena no Convento de Santo Antão,

Onde as castidades preservavam através de orações na mais pura e santa vaidade.

Vai que com o passar dos anos, na época do natal, a dita recebera um presente...

Este que deixou o convento em polvorosa por tamanha falta de respeito e vergonha.

Deram-lhe o indulto tão sonhado, aquele que cobiçado deixava os detentos bem mais crentes

Numa justa sociedade de respeito, a qual perdera a dita a vereda verde de quem sonha.

Volta à cidade a filha rebelde, onde a sociedade atuante a recebe com palmas, fogos e fogueira,

Pela qual, tutela lhe promete à vida toda, a qual mais tarde, dela, se esquece a sua casta.

Sandra Maria Aparecida Florentino de Oliveira Santos Silva da Cruz Ferreira...

Lá pelos idos de 1917 desembarca no Rio de Janeiro, indo viver morrendo,

Lá no bairro da Lapa.

Vicente Freire – 06/04/1983.