Olhe de novo e veja bem (2)

Caminho com os olhos atentos ao chão.

Sei de pedras e sapos e bichos mortos,

poças d’água suja,

chicletes derretidos nas calçadas,

lixo quase atômico...

Tudo remete à gente - ao que desfrutam, desprezam, desfazem, deslizam, destroem.

Vez em quando ergo a vista;

um passante cumprimenta, surpreso.

Surpreendo-me também.

(O sentido de haver gente: gerar o que desfrutam, desprezam, desfazem, deslizam, destroem.)

Ergo a vista e vejo o cotidiano, o comum, o de sempre, o desconsolo.

Caminho com olhos abertos

e sinto sono.

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 12/12/2022
Reeditado em 05/12/2023
Código do texto: T7670098
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