Harpia*

Harpia

Noite escura

uiraçu se esconde

sob som das águas

no pau-rosa mais alto .

Silêncio de selva

silvo de macacos .

À um alerta, um código

Uiruetê acorda

Sobrevoa altiplanos

sobre círculo vermelho

O circo - mortuário

de ossos em desalinho

Peles enrugadas acenam:

No rosto alguma tinta

tingidos à jenipapo.

.

Cutucurim tem fome

sob raios de Sol

.à beira das nascentes .

. mas não come o sagrado

O segredo , o segredo

A transgressão , o degredo

não pertencem ao ciclo da vida

.

Morte , mausoléu de homens

berço de curumins

destino traçado à bala

Cantam os uiraçu

Harpias em pesado voo

afastam- se da tumba – clareira

afastam- se da morte certeira

O que sobrevive é chumbo

Marcia Tigani

* Harpia : Gavião-Rei