Um país

Algo me acomete.

Não vem dos acontecimentos políticos, creio - não os tenho visto.

A bolsa, não sei se há suicidas, até constar os homicidas de sempre.

Se é doença, não sai nos exames - que eu não fiz - o mal do corpo que fica acordado horas a fio na madrugada.

Mas algo me acomete.

Não é nada com meus vizinhos: cada um deles se tornou apenas mais um em suas telas.

Não sei se terminaram os arranha-céus que construíam, porque há sempre os mesmos sendo levantados, e não me dizem ter cessado a tragédia em cada um deles.

Algo ainda me acomete.

Mas não senti qualquer água nas pernas ou a falta dessa no corpo nos últimos dias - suponho que ainda se produzem inundações e secas apenas em quem não controla o peso das decisões escritas.

E, parece-me, não confirmo porque não li nos jornais que ainda circulam, que não há qualquer descoberta 4 ou 5.0 que cure o imperialismo da dor da fome.

Havia uma frase que dizia que neste país

é proibido sonhar.

Algo de pior me acomete:

eu consigo sonhar com um país

só nosso.