AQUELE QUE QUASE NASCEU

Tenho gasto meu tempo

no trabalho, no mercado

e no circo.

Vivido para ser visto,

controlado e explorado.

Tenho sido isso ou aquilo

na ausência de mim mesmo

e através das coisas gastas e perdidas

em exercícios fúteis de sociabilidade

que arremedam a vida.

Tenho visto meu tempo encolhendo nos anos,

meu corpo morrendo aos poucos nos fatos,

e minha existência desaparecendo em meus atos

e silêncios cotidianos.

Tenho morrido,

sofrido noites dentro de dias,

como se parte de mim

nunca tivesse nascido

ou não pudesse ter sido.