nem sequer o caminho sombrio

Sob trilhas iguais, vaguei ao lado dela,

paralelas veredas sob luz que arde.

Essência diversa, não feito da trama

que ergue o edifício, onde a cidade tem

limites mal decifrados por quem

trilha as calçadas, contornos por buscar.

Se há amor por mim, nos signos rubros

me oculto, ou em pétala solta e virgem,

perdida na selva, flor que desgarra.

Hoje, à beira do leito, um lago brota,

onda acelerada, frequência minha,

ante a espada cravada nas palavras.

Quem sabe a fonte da seiva que pulsa

no coração destas árvores altas?

Na vida central, sombra que acolhe

quando o sol ascende, e nos assombra

quando a noite, insaciável, suga

das artérias o medo que espreita.

Pilares por onde a multidão passa,

mesmos que, ao invés de expor a dor

do templo à calçada, à carne entregam,

que traga os incautos ao fogo estranho.

Sopro de plasma nos ossos traz

sol e sombra, noite mais alucinante.

Compreendemos então: ela amava,

pois era a própria noite de fuga.

Na mesma vereda, eu peregrinara ao lado desta mulher,

Onde meu nome foi celebrado, à luz que arde

Em outra essência; não fui talhado do mesmo

Tecido que edifica este prédio, de onde se desvenda

Que a cidade tem seus limites e que os seus

Habitantes mal decifram os contornos das calçadas.

Se me amas, eu me recolho nos signos sanguíneos,

Ou em uma pétala solta, da flor imaculada, que

Se perdeu na selva. Hoje, um lago imenso

Nasceu à cabeceira do meu leito,

Peixes e formigas sussurram a troca selvagem

Da prata incandescente, que aqueceu

A esfera sólida e ferida, cuja dor brotou

De uma infâmia que uivava,

À frente da abóbada que resguardava

Os palácios dos desejos selvagens da multidão faminta.

Não existiu a floresta em que um caminho,

Mesmo sombrio, nos conduzisse às torres

Que iluminam os mitos que nos sustentam

Nesta tarde dourada, plantada há milênios

Na terra fértil, onde a primeira semente foi lançada.