mais velho que meu pai

Mais velho que meu pai, ainda.

Não sei se sou mais ele do que

Ele sabia. O que tenho? Esse céu que me acompanha,

Praias imensas me chamam, tórrido romance com o mar.

Seus pássaros sem nome, seu vendaval após o alçapão,

E nada é mais belo; essa natureza se exibe, até as tempestades,

São pavões desprevenidos; o sol a fazer-se sol nas pequenas sombras.

Eu respiro e suspiro, o ar e emoção que o belo empurra pelos cantos

Do coração. As chuvas são longínquas e nos molham o que vemos,

Então somos água, óculos líquidos que nos apresentam de outro jeito,

O mesmo jeito de saber o sol, a coruja, cujo pescoço todo ao redor

É guardado. A memória magnética traz para si tudo que é análogo.

Sua birra, cinquenta anos perto, e o segredo mais terrestre ainda me pasma,

O amor, esse sedimento; amor aprendido como ponte feita exatamente para

Não cair no rio profundo e se afogar com pensamentos. Ao meu redor, quase

Tudo já se foi, e o que não foi, esvaiu-se no elástico esforço de se fazer o mesmo.

Os anos, somados um após o outro, não são o mesmo dos termos incrustados,

Uma semana é imensamente maior que cinquenta anos, inclusive tem menos névoa,

E nenhum amor perdido. Então esquecemos, já era o que quis, já era criança que ainda

Sou, mas parafinada pela cara séria, pela forma correta, a fruta entorpecida de fazê-lo.

Os cães vivem poucos, as formigas são apenas formigas, e as carnes, não as

Sabemos mais do que parte de um bicho que não caminha com os signos, o tempo, finito,

Porém infinito dentro do mesmo casulo, a espera nos machuca pela inércia, a parada

De repente, então percebemos, nada mais que ventre e essa vontade de escapar.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 28/08/2023
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