desen(cantando-se)
garimpei por muitas minas
até do Rei Salomão
em busca de pedras finas
para a minha coleção
dessas pedras tirei leite,
tirei gemas e sementes
que plantadas deram frutos
e flores incandescentes
no meio desse jardim
construi meu santuário
com safiras e brilhantes
que comprei num antiquário
uma fonte de água doce
corria por entre as pedrinhas
topázio, rubi, turqueza,
e uma bela água-marinha
mas um dia um peregrino
quis conhecer meu rochedo
dizendo-se alquimista
e devoto de são pedro
sem nenhuma cerimônia
dirigiu-se ao meu altar
provou do pão e do vinho
e benzeu meu patuá
remexeu meus pergaminhos
meus papiros, meus tesouros
adulterou minha fórmula
de transformar chumbo em ouro
depois saiu de fininho
levando em sua bagagem
meu pujá de diamantes
meu terço de lápis-lazúli
levou meu olho de hórus
cravejado de esmeraldas
que ganhei de um faraó
numa lingua embalsamada
quinhentos grãos de mostarda
que tirei de uma parábola
e um broche que La fontaine
me vendeu por uma fábula
Mas como diz um ditado
quem tem pressa come cru
pois na pressa ele esqueceu
sua flauta de bambu
ainda quis correr atrás
mas logo o vi se arrastando
carregando aquelas pedras
e outras pedras o cercando
compreendi então na calma
que se a palavra é muralha
mas vale um flauta na boca
que mil pedras na sandália
(Lia de Oliveira - Belém/PA)