Para início de conversa
Muito bom dia, Raimundo
Caí neste vosso mundo distante
Como quem cai por acaso
Entre um olhar e outro
Entre um gesto e um passo.
Ouço música
Canto a minha infância
Observo, absorvo
Procuro e nem sempre encontro.
Durmo à noite
A mãe acorda e prepara um café.
Subo ladeiras
[aqui há muitas]
Rezo ao passar pela igreja
Paro,
Espero,
Chego,
entro,
começo o meu dia.
Volto para casa
Porque minha gente me espera
Para cantar os parabéns da prima.
Atravesso o meu rio a nado
Na madrugada
E finjo pular ondas
Luto com elas
Conversando com gente antiga
Espíritos que me visitam em silêncio.
É noite.
Raimundo, em teu vasto mundo
Há alguém que teme a poesia
Tanto quanto eu?
Que sofre o martírio dos hiatos do ser?
Raimundo, a quantas anda teu coração?
E se eu tivesse o teu nome
Como se chamaria o meu filho?
Sopra o hálito do teu timbre
Sobre essas minhas linhas
Para que ele atravesse
As mil dimensões que nos separam
E eu te identifique pelo formato da voz.
Perdoe pela ousadia
Aceite-a como uma gentileza
E guarde entre suas coisas
Ou em páginas de livros
(o que tens para mim).
Raimundo, sou ele
Que atravessa os dias
Em rasgos de dor
E de felicidade.
Sou quem apaga a luz
E faz o povo sumir.
15.09.07