Madrugada (daqui do 406)
Aqui do alto,
posso ver algumas luzes que acendem e se apagam,
num movimento quase musical, mas sem ordem alguma.
Vejo cada sonho
que sai pelas janelas, a procura de aventura.
Vejo a vida de quem for, na madrugada pura.
Vejo as linhas tortas,
acompanhando a arquitetura despretenciosa da cidade.
Vejo vidas que dormem, sem cor e nem idade.
Aqui do alto,
nem ideia posso fazer de quantas vidas se ajuntam lá fora.
Cada uma indo a algum lugar, cada qual com sua historia.
Olhando para longe,
parece cada parte se ligar por entre ruas finas e escuras.
assim como ligam-se as vidas de todas essas criaturas.
Parece que a cidade,
quando o dia se vai e a noite vem,
ser dona dela mesma, não pertencer a ninguém.
Das poucas vidas,
que pelas ruas transitam à essa hora,
algumas buscam sabores, e outras estão indo embora.
Pra quem chega em casa,
duas coisas podem eles aguardar.
alguns o sono merecido, e outros, alguém pra amar.
Lá de baixo,
eles nem sabem ao menos que os fito,
com olhos abertos e atenção no ouvido.
Mal sabem eles,
que a ausencia de sono que me assola,
se vai com o dia que eles esperam, assim que a madrugada vai embora.
Sabem menos ainda,
que menos opções eu tenho agora. Já que,
os que tem sono dormem, os que não tem amor choram.
Eu não durmo,
e nem choro por amor perdido algum.
Eu sou só um olhando lá para baixo,
olhando para cima, eu não vejo nenhum.