Se eu pudesse brincar com a lua
Se eu pudesse brincar com a lua,
faria ela escorregar pela fiação elétrica.
Deixaria que se escondesse e paralisaria o tempo no exato momento em que ela se revelasse no céu.
Para não deixá-la fugir nunca mais, a
prenderia entre dois fios de alta tensão.
Enquadraria ela de modo a tornar-se única, em um cenário caótico e desagradável, ressaltando, pelo contraste, a beleza da luz que não é artificial.
Como o instante decisivo da fotografia, sei que
nenhum momento pode retornar.
O tempo passa e tudo muda.
A lua já não é mais nova, é crescente.
Em breve será cheia e, depois, se tornará minguante.
Tudo são ciclos.
Acontece com a lua.
Acontece com a vida
Foi, agora é, amanhã já não é mais.
Quando era criança gostava de fingir que, lá de cima,
a lua também nos via.
Com o tempo, perdi este hábito.
Deve ser porque ninguém gosta de olhar sem ser notado.
Hoje, por um momento, tive de novo a sensação de que ela nos vê. Talvez eu nunca vá saber a verdade, mas não perco a esperança de que, um dia, eu ainda vá poder brincar com ela...