o mesmo

Imersos no ventre ancestral do tempo,

Nossa ânsia se entrelaça na esfera dilatada

Onde as horas, lentas, se desdobram.

Embriagados de uma única existência,

Nos miramos, sedentos por decifrar

O enigma partilhado em nosso olhar.

Existem dias em que nos esvaímos,

Sob o sol abrasador, escavamos o solo

E sorvemos, com avidez, o elixir audacioso -

Esse desejo extremo que nos impulsiona

Após cada queda, cada véu que nos uniformiza

Na efêmera tormenta que iguala

Homens e mulheres, anciãos e infantes,

Todos encadeados na espera de sua vez

Para descer os degraus, repousar sob a árvore primordial

E provar do fruto mais sombrio.

Sombras nos cercam ao cair da noite;

A mortalidade nos atemoriza, e a escuridão

Mal consegue formar uma sentença completa,

Apenas o eco de um tempo estendido

Além dos caminhos antevistos.

Por vezes, ainda bebemos, mas os dias idos

Envelheceram; a juventude da moça se foi,

E nós, à nossa maneira, nos repugnamos

Nas velhas esquinas conhecidas.

O frio lapida a pedra e nos molda

Para o porvir; somos e não somos

O mesmo tremor, o mesmo sufoco

Que desde a infância nos acompanha,

Nunca deixando o limiar, mesmo com a porta escancarada.

No tempo, um ventre antigo nos acolhe,

e, suavemente, nossas ansiedades se entrelaçam

em uma esfera onde o tempo se alonga e pausa.

Bebemos da existência como se fosse única,

refletindo, em silêncio, sobre o mistério

que nos olha de volta, nos convoca.

Há dias em que nos desvanecemos,

sob o sol que tudo toca, tocamos a terra,

bebemos, gentilmente, da ousadia da vida -

essa força que nos eleva

após cada tropeço, cada descoberta que nos une

na breve tempestade que nos faz iguais:

homens, mulheres, jovens, idosos,

todos à espera de sua vez para descansar

sob a árvore primordial

e provar do fruto mais enigmático.

Ao anoitecer, somos cercados por sombras;

a mortalidade, um sussurro, e a escuridão

mal consegue tecer um pensamento inteiro,

apenas o sopro de um tempo que se estende

além do previsto.

Ainda bebemos, às vezes, mas os dias passados

já não são os mesmos; a juventude se desfez,

e nós, à nossa maneira, nos encontramos

nos velhos cantos conhecidos.

O frio esculpe a pedra, nos prepara

para o que ainda não conhecemos; somos e não somos

o mesmo sopro, a mesma inquietação

que desde a infância nos segue,

sem jamais deixar o limiar, mesmo com a porta aberta.