NASCIDO CATIVO

Não foi para mim suficiente

o evento do meu nascimento.

Não ouso dizer

que me tornei homem feito.

Apenas sobrevivi a mim mesmo.

Afinal, não me foi possível

o prazer de viver

fora da prisão de ser.

Não me foi permitido

ser livre e autônomo,

criar e pensar sem o interdito

de cartilhas, decretos e leis.

Me foi proibido existir contra o Estado.

Romper a grade das regras e princípios,

Rasgar tradições e tratados a beira dos meus mais íntimos precipícios.

Logo, não me bastará sucumbir mansamente ao mundo,

morrer qualquer dia como quem nunca viveu.

Quero provar, mesmo que tarde,

o lado de fora do cativeiro.

Me tornar, finalmente,

homem feito,

despido de tudo que me foi imposto,

ensinado e determinado.

Quero ser único,

absurdo e incompreensível,

além da ilusão de livre arbítrio.

Quero ser libertário.