cinza e fogo

Não, Ciranda brava, não é dessa terra,

Quero te falar, nem dessa turva lembrança

Que mal se forma na memória, nem o esculacho

Que adentrou a porta mais destemida, quero te

Falar, minha ciranda, do espetáculo que vive

Em cada grão de areia, na gota mais discreta

Desse Rio insano que alguns chamam de vida,

Desse orvalho Delicado que sobre a folha verde

Do milharal nos ensina que mesmo com o sol

Algo das coisas escorregam em direção à terra,

Dos olhos entremeado da floresta de seixos

À beira do lago nas montanhas, ou quem sabe,

Ciranda, vórtice de desejo e de medo, que nos

Aproxima e nos expulsa, como as andorinhas,

Aos milhares, sabe desenhar tão no alto do céu,

Quando jovem, a vida sedutora me embrenhava

Dentro do vendaval apagado, agora, com os olhos

Ligados à pele e o coração no tremor do despenhadeiro,

Perguntamos, é de verdade essa sanha que sangra

O ventre, essa sanha que torna rubro os pensamentos,

Baco em sonhos interrompido deixados em bornal

De tecido frágil, será desse mundo a vertigem

Que nos amadurece, que nos dão o fogo da montanha

Mais alta, o império que clama por reconhecimento,

Ou será a sombra a rainha mais inestimada pois é dela

A força desse maremoto que nos impede de abrir as janelas,

Sinto de dentro das coisas o que nos torna humano e não coisas,

As veias e artérias já sabem o caminho que deixa a vida viver:

As cinzas e o fogo já sabem de si