Roda de choro

bebo a cachaça

do autoelogio

para bem cessar

o frio imaginário

esse vício inútil

débil, sem aprumo

nem valia

nem nada

fumo um cigarro

pigarreio, cuspo

arreio os cotovelos

no balcão do boteco

trago novidades:

susto na arquibancada

visto uma lingerie

rendada, demagógica

afrontosa de gênero

subversora da lógica

que repele aos

tolos de ocasião

aos medíocres

sobressalentes

peida-tangas

na existência

que por excelência

quedam-se bêbados

faço uma oração

pelo contrário

da agremiação

sou escorraçado

desfiliado, orfão

desfamiliarizado

lambisbeijo o chão

das calçadas

lambisgoias caçoam

ressoam gargalhadas

o sentinela social

me vigia os passos

a lâmina me espia

sorrateira, secreta

postes de energia

concebem a luz

essa estranha luz

que salva e acolhe

essa luz humana

ultradesumanista

esse brilho opaco

paradoxista

tanta negação de si

que sorri às avessas

essa estranha luz

que induz ao erro

aos breus do senso

em tempo ensolarado

pela rua, retraço

a rota e ouço sons

ademais, o maroto

chorinho me alcança

tristeza não quero

quero dança

das rodas de choro

um chiste de pandeiro

entrevero de cavaco

pitaco de bandolim

assim, a flauta chora

emocionada, sonora

alguém estende

a mão em gentileza

um copo de pinga

com certeza

bebo a cachaça

do compadrio

para bem cessar

o frio da razão

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 05/03/2024
Reeditado em 06/03/2024
Código do texto: T8013172
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