arbusto mais verde

Não a deixo

como me foi deixado

o arbusto mais verde.

Cujas folhas acendiam

a sala,

enquanto eu ignorava

a janela.

Já inscrita na tessitura

de meu desejo,

que na pluralidade

da vontade,

era uma apenas

ao encontro

de outro tesouro.

Eu, pele,

já vestia minha língua

de tua aspereza mais felina.

E eu arrastava pelo terreno

enquanto a terra gemia

de prazer,

ou de dor,

suplementos da mesma

cosmo agonia.

E tu, ainda que

em lembrança,

me tocavas o sexo,

voluptuosamente me represavas.

Aos teus lábios,

onde palavras passavam

pelo acabamento, pela

articulação que a ela se dão

ao mundo.

Embora fosse teu coração

que sorvera a sombra devoradora

e a voz linguagem

que me chegasse

aos ouvidos.

E as ouvia, afinal,

era de alguém em quem toquei

a esperança,

em quem o desejo

foi possível ser desalojado.

E tu tremias, gemias,

gesticulavas com as pernas

o coito mais febril.

E o espaço era um paradoxo

que apontava para a terra e céu,

a fazia germinar em uma vida

que nos faria se enxergar.

Mas teu galope

era violento e fazia sangrar

toda a palavra que a consolava

do ventre calamitoso

que a terra lhe abria

em generosidade – como não sabia –

Porque do escuro poucos sabem.

Pegou a vereda mais animada,

com dançarinos eroticamente carregados

e à beira da floresta escura,

sem nunca adentrar,

compôs teu campo mais seguro.

Então éramos como duas vidas

escapando da morte,

sem imaginar que é

nela, em sua liturgia,

que nos apronta para o final,

que se extrai da vida

sua veste mais sóbria.

E tu, agora que sabes,

e eu, agora que a tenho

em sua sabedoria,

traçamos a trama mais inviolável

de uma vida que antes

era uma mortalha.

Demo-nos o mel, o néctar

mais imperturbável destilado

na violência mais crua.

E à beira do abismo

que é por onde nos tornamos

harmônicos ou vacinados

do tédio, seguramos nossas mãos.

E no instante mínimo

em que o tempo se dispersa,

vislumbramos a fibra,

mesmo que estiolada,

que faz de nossa carne

o tecido elétrico

de passagem para a comunhão.