O NOME DELE ERA "NINGUÉM"

 

Saiu de casa sem nada

a idade já avançada

com a saúde debilitada

foi sobreviver nas ruas

marreteiro clandestino

no frio ou no sol a pino.

Perdido dentro de si

esqueceu o rumo de casa

e não fez falta alguma

dormia em albergues

verdadeiros icebergs

solitário e depressivo

se usava antidepressivo

ninguém queria saber

sua terapia era beber.

Prostrado diante de Deus

querendo ser destruído

implorou para morrer.

Eu o saudava todos os dias:

Professor, tenha um bom dia!

O nome dele eu não sabia

nem me interessava em saber

fiquei sabendo depois dele morto

quando ele pulou de um viaduto.

Geraldo Bispo era o seu nome

ninguém por ele ficou de luto

Geraldo não tinha ninguém

morreu atrapalhando o trânsito

corpo estendido na via expressa

entre carros de passeio e furgões

todos comprometidos com a pressa

buzinaços, xingamentos e palavrões.

Foi enterrado como indigente

em uma cova rasa certamente

de algum cemitério decadente

de uma zona qualquer da cidade

amortalhado pela insensibilidade

de uma desumanizada sociedade.

 

Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)