SESSENTA CICLOS

SESSENTA CICLOS

 

Somente quem se despe do início,

Poderá conviver com as estações,

E também se lembrar dos ofícios,

Porque trabalhou com os ladrões.

 

Lhe roubaram dois terços da vida,

Pois só gozou das horas de sono,

E no resto foi servo e escriba,

De cada faraó ou reinado colono.

 

Desde o dia que saiu da fornalha,

Ess fagulha trouxe luz ao mundo,

E pôs fogo no chão das batalhas,

Que nem César viu um nibelungo.

 

Cada touro que chega na Terra,

É capaz de lutar, prover e cuidar,

Mas quer a reciprocidade eterna,

Sendo a paz o seu modo de amar.

 

Nascer em maio é ter colo de Gaia,

E vir com a força que arrasta o céu,

Pois tudo o que une o mar e a praia,

Derrota até loucos que riscam papel.

 

Só quem pisa no chão com coragem,

Encara os leões, mesmo no fosso,

E vence os dragões com vantagem,

Pois é arte de Deus num colosso.

 

E ao transpor os sessenta ciclos,

Aquele taurino ardeu em lágrimas,

De muita agonia diante de grifos,

Se no mundo há truques e mágicas.

 

Na loucura dos dias de agora,

Em que faltam amor e verdade,

Como será que um touro valora,

Ter um caderno com sua idade?