as duas

Pertenço ao dia, ainda que a noite

Seja minha eterna companheira,

Amo o sol, o capim que o vento desalinha

E as histórias sussurradas às árvores,

Relatos do que foi testemunhado ao amanhecer.

Mas é na noite que me encontro em queda livre,

Sem jamais ouvir o som de portas que se fecham.

Admiro o desfile meticuloso das formigas,

Arquitetas de futuros subterrâneos,

O lago que reflete o céu,

Tão azul quanto as nuvens que, dispersas,

Confidenciam-se também nas águas.

Como não ver na noite

A mãe mais definitiva,

O mar gelado, o sepulcro que desperta

Todos os mortos que em mim habitam?

Nada mais belo que a aurora,

Onde o céu e a montanha se fazem porta

Para a fuga dos olhos mais artísticos,

Mas é na noite que a vida é fermentada e,

Embora o dia nos torne sadios,

É na noite que a loucura é reverenciada

E dela fazemos os versos mais profundos.