Sei lá quantos

Eram três meninos, eram vinte, muitos mais.

Eram três meninos cansados, tristes, pesados de vida.

E nos seus olhos já pouco brilhavam as águas.

Olhavam com aquele estilo amargo

de muitos anos de castigo infame

e horizonte boquiaberto de espanto terrível.

Eram três meninos que eram vinte e muitos mais.

Mas antes

quero dizer-vos do verde,

dos comboios de brinquedo

e das esplanadas onde nos intervalos do quotidiano

a noite dos dias se manifesta

euforicamente.

Deixai, ainda, que vos fale da graça,

dos andares elegantes

na areia fina que, e quando,

nos mexe intimamente e onde nos despimos mais,

um pouco mais,

e do chichi escondido nas ondas na espuma.

Porque os meninos que eram três e muitos mais

lembravam-me o tédio, o pão nosso de cada dia.

Ai mãe!, minha mãe de cacos,

de tanto engano, de mulher a dias

e de meninos muitos lhes dizeres

que o céu é de terra.

O céu não é de terra, não.

É de olhar.

E os meninos mais de vinte trazem o céu no ser.

Quero dizer-vos da juventude,

o primeiro emprego que espera e desespera.

E dos velhos,

com quem se confundem os mais de vinte meninos.

E dos velhos

que vos fale das pregas da morte,

dos velhos

sem outro amanhã que não seja a morte.

E que sorte.

Ai!, meu país de ministros capazes.

(sabem o que é a juventude, senhores ministros?

É o verde, a verde seiva,

a força de crescer e lutar por um futuro, por um sorriso).

Àqueles meninos

muitos cresciam papoilas nos olhos

e raízes por dentro das mãos.

Aqueles meninos,

no entanto,

arrancavam as papoilas antes que murchassem,

antes que murchassem.

Talvez não murchassem porque a esperança

não se abate quando se luta.

E os meninos irão lutar,

porque os meninos,

quantos sejam,

nunca se rendem

Venoi
Enviado por Venoi em 06/12/2005
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