A queda do castelo dos sonhos
É preciso recolher as cinzas
do velho barraco dos sonhos,
retirar estacas do peito, vestígios da alma.
E se dos sonhos restarem estilhaços sobre o azulejo
Da sala com sua tristeza parada
melhor lança-los fora,
cacos de vidro se perdem na brevidade da vida.
Sonhos vêm e vão e todos caminhamos entupidos deles e somos aquilo que sonhamos.
Porque sonhar é sofreguidão do viver
Porque viver é sonhar e sofrer,
nas mãos escorre um rio de sonhos.
É preciso levar o rio,
ou deixá-lo a deriva, solto.
E construir outro poema sugado da seiva
esgotada da vida,
(Se vida ainda houver),
É preciso ir de volta
Não ao coração vazio de si
E a esse corpo morto,
De volta própria vida como ela há de ser:
Delírio cego do nosso nome.
No deserto inexplicável por onde passa essa vida viúva
miúda
eu me abandono ausente ao infinito verbo amar
E o sonho em mim se alaga desertamente.