EM MEIO AO NADA
No asfalto quente uma fresta que rompe
água da chuva, restos, poeira
acúmulo, adubo sem eira
aos poucos um resquício de vida
desponta, aponta, resiste
Entre largas passadas da vida agitada
pés descalços
biroscas, peladas
pipas içadas, cortantes
balas perdidas, vidas ceifadas
Brota o verde, sobrevivente imponente
como a tentar proteger
desafiando leis
rasgando cimento armado
mostrando a força que tem
E, em meio à tantas agruras
do dia a dia massante,
dessa luta impávida
desse viver desgastante
ecoa da fresta um grito
mudo, calado
exaurido
O grito da esperança
que cala, mas nunca se cansa!