Fisiologia do Tédio

Ó carne de meu negro ser sem fundo,

Tu que o terror do meio externo injetas

Em meus nervos morosos, como setas

Alvejando-me o cérebro infecundo...

Ó corrupta e funesta portinhola!

Habito este tugúrio sob a tez,

E muita tempestade o já desfez,

Mas o tédio, somente, hoje me assola.

Os vínculos, outrora bem firmados,

Entre as idéias num painel bem posto

Derretem-se e depois são degustados

Por estes parasitas do Desgosto,

Que espargem no meu sangue pela mente

Este misto de chama e de langor,

Produto de sinapses em torpor

E em fúria meditando esterilmente.

Vou com meu ópio me deitar aqui,

Transportado a um deserto oriental:

Imenso nada que se basta a si

E pode me alegrar sem Ideal.

Minha pele nervosa então repousa

Em nova forma de existir, de sorte

Que, alçando ao mais remoto, logo pousa

Num páramo entre as fúteis Vida e Morte.

wsdafae
Enviado por wsdafae em 07/02/2008
Reeditado em 07/02/2008
Código do texto: T849206