O ÚLTIMO POEMA
Por falta de alegria faço o último poema
Antes que a noite se vá...
Antes que a poesia decida me deixar,
Faço o último poema.
Já esgotei o repertório das palavras.
Exauri o significado dos momentos mágicos.
Antes que a poesia me abandone de vez,
Faço o último poema.
O último, talvez...
Sei que uma só palavra escrita
No modernismo dos nossos pensamentos
Merece ser declamada, aclamada e dita,
Antes de eu compor o último poema.
Mas, que dizer aos tantos sentimentos órfãos
De palavras escritas em bilhete alçado ao vento
E que submerge lentamente em lago sereno,
Dissolvendo a tinta, embaralhando as letras,
A se perder nas profundezas da alma?
Cada emoção vivida merece um poema próprio,
Uma palavra honesta, uma nova canção.
Por isso, faço o último poema.
Pois sinto que me foge a emoção
E com ela vai-se a companhia terna,
Vão-se os versos, vai-se a ilusão...
Por falta da poesia faço o último poema
Antes que a alma se vá...
Antes que a vida decida me deixar,
Faço o último poema.
Pois quem tem o coração poeta
Carece caminhar com a poesia ao lado
Ou flutuar no céu a desenhar nas nuvens
Um sinuoso bailado
Toda vez que a poesia nos tira prá dançar.
E é uma festa imensa
Quando a poesia decide formar par
Com um coração poeta.
Girando alucinadamente no salão de festas
Respondendo ao ritmo com passos naturais
Enquanto a grande roda responde exuberante
Em palmas delirantes e sorrisos fáceis,
Poeta e poesia se deixam embriagar
Pela atração sutil que liga o seu bailar.
Por falta da poesia faço o último poema
Antes que a noite se vá...
Antes que a poesia decida me deixar,
Faço o último poema.
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Não há mais nuvens no céu prá desenhar,
A manhã raiou de vez.
O último poema se foi
O último, talvez...
Ainda resta uma lágrima no olhar...
09.02.08 – S Paulo, SP