Vestígios de uma alma aflita
Entro no quarto.
Ouço uma voz que ecoa do canto da parede cinza.
Essa voz vem do rádio que toca desde a primavera a mesma música que erra nessa esfera.
Na janela, as negras cortinas cobertas por fuligem e poeira que vêm de fora, de uma paisagem a parte.
Não deixam entrar a luz do dia, luz do verão, que amargou então em seus negros mantos.
Avisto um colchão velho,
Quem sabe um alento...
Não!
Tomado pelas traças que o consumia,
Somava-se ao frio cenário que ali se percebia.
A mesma música que toca no rádio desde a primavera,
Já não erra mais nessa esfera,
Pois começa a afligir minh'alma sincera.
Ouço uma voz
Mas não é a voz da música que ecoa do canto da parede cinza.
É a voz de um cativo em pranto.
Pranto não dissipado.
Um cativo morto, sepultado.
Sepultado para sempre nesse quarto,
Condenado a ouvir a mesma música errante
Que porém já não erra mais.