Todas as Mulheres são Hebréias

I

Ser hebréia é caminhar errante

nos oásis e desertos da existência

confessar-se peregrina – pois que vaga

onde pisam os seus seres mais queridos

onde brilham seus desejos mais altivos

II

Rir o riso duvidoso e impaciente

quando amarga o gole da desesperança

mas no íntimo elevar a esperança

‘té o limite de dar luz ao inexistente

Ser hebréia é ser às vezes Sara

forasteira e solitária mãe de gentes

III

Como o vento que carrega o doce orvalho

espalhando sua vida pelos ermos

ser hebréia é levar cântaros nos seios

de suores, seivas,lágrimas e leites

IV

Qual Raquel sofrer a dor da inocência

dos infantes de qualquer filho da terra

chorar vítimas da fome da ganância

junto ao poço que transborda resistência

A beleza das hebréias é a graça

que esbanjam pelos poros – que perpassa

a fraqueza própria dos seres que andam

sob o sol junto a dor e a desgraça

V

Como os lírios que são belos sem enfeites

têm no ser a formosura por essência

têm a mirra – olor sagrado –por fragrância

têm por olhos as estrelas do oriente

VI

Ser hebréia é ser a lótus de Saron

efêmera, eterna, frágil e forte

esplendor que não se perde nos exílios

quando os olhos frios fitos caluniam

qual Suzana – no jardim da Babilônia

sob as asas da justiça se asilam

como a lótus submergem na angústia

mas ressurgem quando o sol sua luz envia

VII

Ser hebréia é existencialmente errar

numa busca singular pelo mistério

é sentir que há no peito algum vazio

q’ se desloca e sempre encontra algum desvio

é mudar de direção conforme o Vento

no intento de encontrar algum lugar

‘té que os pés nos rastros do desconhecido

faça via aonde não podia estar

E assim como a luz não ter um‘outra sina

que em todo seu trajeto acender

o calor que gera e faz crescer a vida

o amor que faz a vida ser infinda

08/03/08