Um poema para um Dia Triste

Não vou falar de amor.

Não quero saber de tua felicidade.

Não vou cantar o gozo de viver,

Com minha voz já cansada.

Hoje, embora que ninguém permita,

Quero beber da Dor;

Nada de hipócritas contentes no jardim,

Dor, entende? Dor...

Vou escrever em papel negro,

Com uma tinta pecaminosa,

Debaixo da sutileza,

Um poema doído.

Sim, pois nem todo mundo sabe fingir:

Há quem não esteja sempre sorrindo,

E esses tem o direito - irrevogável -

Há uma noite de pranto...uma lágrima, quem sabe, duas...

Quero falar de falta de ar,

De ataques repentinos de pânico

Onde se é jogado no meio de uma guerra,

Sem armas ou escudos.

Deixe que eu seja completo,

Me permita cantar o sofrer,

Seja ele insano, sem motivo,

De botas, de sandálias ou descalço...

Na rua, há muitos poetas,

E todos eles se vangloriam de só cantarem o amor.

Não por impulso artístico,

E sim, pelas moças que a poesia atrai.

Escrevem textos para dias felizes,

Desses que o Sol é puro explendor,

A manhã parece que vai ser eterna

E o coração está em paz.

Porém, é preciso também não ser "tão-feliz".

E nos dias em que a melancolia nos afugenta,

Os poemas de amor se tornam cruéis,

Na maioria das vezes, desnecessários.

Quero um poema feito no inverno,

Quando a nossa vida ainda era em preto e branco,

E os amigos eram mais

Que lembranças.

Um poema escrito por alguém

Que, como eu, teve um dia qualquer

Em que a felicidade ficou pra amanhã,

Deixando, sem motivo, a tristeza em seu lugar.

Um poema para um dia triste,

Desses que agente sabe que existe

Em algum lugar do nosso quarto,

Rabiscado e esquecido entre cadernos antigos.