Bom dia

Bom dia,

Tu que foste

Há muito

À linda terra da magia

E aqui me deixaste entregue

Mudo

À minha silenciosa autofagia

Tu que engordas as almas tolas

A cada aurora

Mas para mim fechaste a porta

Da fonte que em mim tanto jorrava

Outrora

Boa tarde,

Tu que tanto te fartas das vidas

Dos sedentos amantes

Mas me abandonaste ao sol causticante

De um deserto verbal

Coloquial

A castigar forte o peito, a fronte,

Os olhos deste viajante

Errante

Tu que sopras a brisa vespertina

Aos entes que de ti buscam o alimento

A saciar suas mentes tão doces, tão áridas,

Na fartura de todas as tuas vidas tão libertinas

Tão flácidas

Deixas a mim tão somente

Teu desprezo silencioso, sonso,

Cínico, inclemente

Boa noite,

Tu que sempre partes aos mundos tantos

Não precisas do tempo nem do espaço

Apenas pede pouso no coração de pobres, de ricos,

De bandidos, de santos

Tu que sempre te cansas dos tolos

Vem cá, descansa aqui comigo

Traz-me de volta teu veneno, tua arte

Lança em mim tua semente, gruda-te em meu umbigo

E depois, no calar da noite, tão somente mais uma vez

Para sempre, parte ...

Marcelo de Andrade

26/04/08

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