O último poema

Se algum dia te contarem

Que fui embora sem nada levar

Que em vão deixei muitos chorarem

Lembre da minha cara e do que quero falar

Ergui com os punhos uns ermos caminhos

Na coragem e covardia e ‘inda sob sangue

Mas deixei lépidos sonhadores sozinhos

Só pra que meu santo anjo se zangue.

Deixei a vida queimar como em brasas

E ferver esguia no ardor das carnes

Só pra sentir arrancarem-me as asas.

Eia! Demoro-me...

De meus papiros sentirei a saudade

Mas deixo esse último em memória da mocidade

Antes que me busque o misérrimo satanás.