Soa suave agreste...

Soa suave agreste lira, os zéfiros

Benfazejos anunciam o verão dos anos

Revejo os passos que andei em danos

O futuro, arca virgem, mil gozos promete

O universal desejo o almeja e prenuncia

Vibre e cante em cor a jornada macia

Não punhal chacal espesso de interesseiros

Anseios turvos, clamor de poder e posses

Monstro cobiçoso a degolar a faina

Umbrosa, de sombras densas e carícia

Vibre com a pompa plena e sinuosa

Da carne em enlace de sedas fluidas

Cante o glorioso sol, lírio de formosura

Esculpindo o alto verão em lírico arroubo

Pela quadra desejosa tesa de harmonia

Langorosa desfile a estação dos beijos

Pela praia desnudante, ébria e amorosa

A boca rica de afagos, no olhar lagos

Solto o cabelo, doce a anca erradia

Vida de flor breve no instante infindo

Nascemos para gozar; a emoção secreta

Oculta em nosso seio o diz e incita

O par anseio dança de nobre astro imita

A forma tem do latente céu sagrado veio

E é pelo prazer que a esfera soluça e palpita

Nervoso, vivo, corre o sangue do azul em meio

E enquanto os astros sublimes segredam

Leis eternais no perene e altivo curso

Entre aromas e alfombras o vivedor augusto

Entreabre em gozo os lábios sem susto

A cega e torpe norma que de nós exige

Suados trabalhos, vasto suor em ondas

Tirando promove usurpadoras rondas

O escravo amarga dor em desesperos sorve

Enquanto bonança de gozo ao bem promove

Gozemos do verão o suave influxo

Baile a carne em perpétuo clarim festivo

Cante desnuda a forma em brando convívio

E o coração de um grato êxtase cativo

A unção das doces musas se ofereça.