Assolados

O homem cruel diante do vento

Impede-o de assolar meu rosto

Impede o vento e trás a dor.

Dor de uma surra infligida sem qualquer motivo,

Desprovida de qualquer bondade

Exercida pelo homem.

Homem?

Cada rajada de vento trazida pelo deslocamento do corpo a minha frente era seguida da dor.

Incondicional, retirando de meus pulmões o ar capturado pelo desespero.

Cada uma rasgando minha pele;

Tingindo o pano surrado de rubro

Rubro que cobria o chão

Rubro não somente meu, mas de muitos.

Muitos que assim como eu

Sentiam a fria terra

E a chuva torrencial e gélida sobre seus corpos.

Cada gota, cada uma lavando o rubro deles

Deixando os no chão, porém.

Alguns, muitos, milhões

Não se levantaram.

E muitos, ainda de pé,

Lembram de cada dor infligida pelo homem...

Homem?

Mas que homem?