Fuga
A vida não passa de uma folha de papel em branco,
Onde se pinta o que quer e se escreve o que quiser...
...e na folha branca da minha vida, um dia, sem querer,
Eu te desenhei.
Sem querer porque entre tantos riscos e rabiscos eu procurava traçar um jeito de viver;
Uma maneira de amar que me fizesse bem, que desse sentido, caminho...
E entre tantos traços indefinidos eu já me cansava, eu já me perdia e quase desistia.
Mas na solidão das altas madrugadas,
Uma pena, tinta e papel sempre me vinham à mão como um desabafo,
E protestando contra o desamor, contra o tédio e contra a solidão,
Eu procurava entre linhas tortas, frases e versos, algo que mudasse o meu curso, algo que me desse uma nova rota.
Eu queria fugir, e no silêncio das altas madrugadas
Eu dava o meu grito mudo de protesto dela garganta de uma caneta.
Mas a minha voz azul não podia ser ouvida, ninguém me escutava,
Eu ficava exausto. O relógio do tempo parecia ter parado.
Um segundo durava uma eternidade,
Aquele momento de agonia e de carência parecia interminável.
Eu me sentia como o único habitante de um planeta chamado solidão.
O mundo me parecia apenas um deserto.
Eu que tanto amo o verde, me sentia cego;
Eu que tanto amo a música, me sentia surdo;
Eu que tanto queria amar, me sentia incapaz.
Mas a solidão das altas madrugadas, me trouxe
A companhia de uma caneta de uma folha de papel,
E entre tantos riscos e rabiscos eu tentava encontrar um sorrisso,
Carinho, alguém que me amasse...
...e na folha branca da minha vida, um dia, sem querer,
eu te desenhei.