Esperanças

Quisera eu que ontem fosse pecado

para guardar-me das tuas garras ferinas

distorce teu rosto e refaz minha carne

próxima do amargo desencontro,

outra hora meia noite quase morta

quisera eu que tudo fosse do gosto

que reveste tua tez, onírica voz

tantas vezes das manhãs amada

desta forma à cada vez que vives

dentro do corpo que é sobriedade

passas por mim euforia inerme

deixas em mim a certeza monocórdica

de teres partido sem deixar nada

quisera eu que fosses bruma ou

realidade,

mas não tempestade faminta, vulcão ardendo

em magma que agoniza,

meia hora noite quase dia quase morto

és metáfora num copo guardada

o último gole simboliza a primeira vez

a primeira carência dissimulada

a noite mecanicamente sem fim,

quisera eu

que, suave como fosse

teu corpo pousasse nas amarras que selam o meu

cerram o meu, fartam o meu corpo de ser só

e então,

meia hora, quase dia, quase sonho ...